PSICOLINGUÍSTICA: BREVE INTRODUÇÃO

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COM LICENÇA DA PALAVRA, PSICOLINGUÍSTICA, É DE DENTRO PARA FORA OU DE FORA PRA DENTRO?[1]

Tinoco de Luna[2]

O texto que apresentamos, em síntese, vai trazer uma noção introdutória do que vem a ser Psicolinguística. Neste sentido, apresenta o conceito e o objeto desse campo de estudos, mostrará a preocupação central da disciplina expressa no que chamamos de “o mistério psicolinguístico”, vai tentar explicar o fenômeno da comunicação que leva a linguagem de um plano físico para um plano mental e vice-versa, além de abordar os antecedentes históricos da Psicolinguística retornando há dois mil e quinhentos anos atrás, lá Grécia antiga. Para introduzir este assunto ainda veremos outras coisas, mas para não “esticar muito a baladeira” logo assim no comecinho, vamos deixar o resto para depois, quando faremos outro texto.

Vamos começar pelo começo, quer dizer, pelo conceito. Psicolinguística é um ramo da ciência Linguística que estuda as conexões entre a mente a linguagem e, desse modo, logo nessa primeira abordagem é possível entender que este campo do conhecimento surgiu do contato entre duas outras ciências já estabelecidas anteriormente: a Linguística que cuida da linguagem e a psicologia que cuida da mente. Descrevendo este conceito de outro modo, poderemos dizer que a Psicolinguística trata do modo como os processos psicológicos e os esquemas mentais influenciam na linguagem e vice-versa.

Como tudo que envolve a mente humana é complexo, a preocupação central da Psicolinguística é nada mais nada menos do que a tentativa de desvendar um verdadeiro mistério; afinal, o que se passa na cabeça de quem ouve quando está ouvindo alguém falar e, do mesmo modo, o que se passa na cabeça de quem fala quando está falando para alguém ouvir? Como é que os esquemas mentais naturalmente colocados em nossa cabeça e aperfeiçoados pelo esforço humano operam quando se produz e se recebe a linguagem? Quem souber da resposta me diga aí que não vai mais precisar fazer a prova; kkkkkkkk…

Resposta exata não, mas há hipóteses de como se processa a comunicação humana. Segundo os estudos psicolinguísticos, a comunicação se faz por meio de dois grandes processos que se dividem em quatro sistemas e se classificam em dois níveis. Entenderam? Não? Claro, eu misturei “cacilda de sá leitão com caçarola de assar leitão”. Mas vamos desembuchar esse negócio agora, conforme expomos abaixo:

OS DOIS GRANDES PROCESSOS da comunicação têm a ver com o ouvir e o falar. O primeiro é processo é o do ouvir, também chamado de Processo de Recepção da Linguagem; esse processo, naturalmente, se faz de fora para dentro, pois quem ouve internaliza algo que veio de fora. O segundo processo é do falar, sendo chamado de processo de Recepção da Linguagem; este, ao contrário do primeiro, se faz de dentro para fora, pois, quem fala, diz alguma que está dentro de si e se quer externar. Tá ficando mais claro assim? Não precisa nem responder.

OS QUATRO SISTEMAS são os pontos por onde passa a caminhada da linguagem e da comunicação, seja de quem de quem ouve para quem fala ou de quem fala para quem ouve; ou melhor, os quatro sistemas são as subdivisões dos dois grandes processos. Já quis complicar de novo? Foi mas não foi. Veja por quê:

  • No Processo de recepção da fala:
  1. O primeiro sistema é o Fonético-fonológico, pois tudo começa quando se ouve um som;
  2. O segundo sistema é o Gramatical, pois, o som que se ouve na linguagem não é qualquer som, mas um som com regras;
  3. O terceiro sistema é o Semântico, pois o som além de ter regras, precisa ter sentido;
  4. O quarto sistema é o Pragmático, pois ouve-se o som com regras e significado que se ouve precisa refletir a intenção de quem fala.

Perceba agora algo muito interessante e misterioso: os dois primeiros sistemas, o fonético-fonológico e o gramatical, são do plano físico, pois são visíveis; já os dois últimos sistemas, o semântico e o pragmático, são do plano mental, imaterial, espiritual, pois não são visíveis. Desse modo, vemos que nos quatro sistemas do Processo de Recepção da Linguagem, opera-se uma passagem de um plano físico/material para um plano mental/espiritual; dito de modo científico, seria uma passagem do nível fisiológico para o nível cognitivo.

2) No processo de produção da fala, a comunicação faz o caminho de volta e inverte-se todo o processo: assim sendo, o primeiro sistema neste processo é o pragmático, pois quem fala tem primeiramente uma intenção; o segundo é o semântico, pois a fala tem que ter significado; o terceiro é o gramatical, pois além do significado a comunicação precisa de regras; e o quarto sistema é o fonético-fonológico, pois o falante precisa emitir um som para que possa ser ouvido.

Perceba, agora, no que no Processo de Produção da Linguagem, ao contrário do que ocorre no processo de Recepção, opera-se uma passagem do plano mental/espiritual para o plano físico/material; ou seja, na linguagem da ciência seria uma passagem do nível cognitivo para o nível fisiológico.

No fundo, para entender melhor a complexidade da Psicolinguística será preciso fazermos uma viagem no tempo, voltarmos lá Grécia antiga, para entendermos os antecedentes históricos e filosóficos que deram origem a todas essas questões. Veremos que a Psicolinguística é o reflexo de uma guerra intelectual que se travou há 2.500 anos entre os seguidores de Platão e Aristóteles. Foi a guerra do mundo das ideias contra o mundo dos sentidos. Mas baixe suas armas, pois essa guerra já acabou e este assunto será tratado nos próximos textos que faremos.

[1] Texto para discussão nas aulaS da disciplina Psicolinguística no Curso de Letras da FVJ

[2] Mestre em Linguística pela Universidade do Estado do RN (UERN)